Para muitos, o mercado de créditos de carbono é apenas uma questão de números. No entanto, poucos compreendem a real importância desse mercado para o mundo e para o combate às mudanças climáticas.
Sou gaúcho e o desastre que atingiu o Rio Grande do Sul recentemente causando a perda de centenas de vidas e prejuízos econômicos é um alerta sobre a urgência do tema e seus impactos.
O mercado de créditos de carbono surge como um grande impulsionador de mudanças. Ele oferece um incentivo econômico para ações que visam a melhoria do meio ambiente, seja através de novas tecnologias ou do apoio a projetos ambientais. É um erro comum pensar que os créditos de carbono são “permissões para poluir” ou “multas para os poluidores”. Na verdade, são mecanismos projetados para apoiar soluções que beneficiam o meio ambiente.

Assim como grandes empresas costumam apoiar projetos sociais para contribuir com a comunidade onde estão inseridas, os créditos de carbono funcionam da mesma maneira, mas com foco ambiental. Ao comprar créditos de carbono, uma empresa está apoiando um projeto ambiental, seja um REDD+, um projeto de reflorestamento ou até mesmo uma tecnologia através de um projeto de energia renovável. A própria empresa pode escolher o tipo de impacto ambiental que deseja promover, alinhando o projeto (e o crédito de carbono) à sua cultura.
É fundamental escolher cuidadosamente os projetos nos quais se investe, pois nem todos têm o mesmo impacto ambiental ou social. É por isso que os créditos de carbono têm valores diferentes. Por exemplo, um crédito de carbono de energia renovável é quase 20 vezes mais barato que um de reflorestamento. Mas por quê?
Os créditos de carbono incentivam tecnologias ou projetos ambientais que sequestram, capturam ou evitam a emissão de gases de efeito estufa. A energia renovável, como solar, eólica e hídrica, já está bem estabelecida e apesar de evitar a emissão de gases não precisa mais de tanto incentivo financeiro para crescer, o que torna seus créditos mais baratos. Em contraste, tecnologias emergentes como a captura de CO2 ou a geração de hidrogênio verde ainda precisam de apoio para se desenvolver e escalar tornando seus créditos de carbono mais altos.

Agora, ao falar dos créditos de carbono baseados na natureza, precisamos entender duas abordagens principais. O crédito de carbono REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) é gerado por projetos que têm como objetivo manter as florestas em pé. Ao evitar o desmatamento e promover a conservação, esses projetos garantem que grandes quantidades de carbono permaneçam armazenadas nas árvores e no solo, contribuindo para a redução das emissões globais de gases de efeito estufa. Na Amazônia, por exemplo, o dinheiro proveniente dos créditos de carbono REDD+ dá valor econômico à floresta, incentivando sua proteção e manutenção.
Por outro lado, temos o crédito de carbono por reflorestamento, que é gerado por projetos que envolvem o plantio de árvores em áreas previamente desmatadas. É um processo lindo e complexo, que inclui o estudo do bioma devastado, o cultivo e plantio de mudas, a restauração de nascentes e a reocupação do local pela fauna silvestre. Por causa do trabalho e dos custos envolvidos, os créditos de reflorestamento são mais caros, mas proporcionam uma contribuição significativa ao meio ambiente.
Ambos os tipos de crédito são essenciais, mas servem a propósitos diferentes. Enquanto o REDD+ é focado na conservação e proteção das florestas existentes, o reflorestamento visa recuperar áreas degradadas, trazendo de volta a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.
Giuliano Capeletti de Oliveira
Founder, consultor e CEO da Mercado Net Zero